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Luz azul

  Quando olhava o que ele fazia, ficava extasiada. Era capaz de fazer qualquer coisa andar, especialmente, quando manejava seu tempo. Era me...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Dona de mim (cap 4 )

A gente sempre está no tempo devido,
no tempo certo, No tempo é que devemos
construir.
Naquele tempo, quando para mim, tudo
era tão reduzido. No pouco espaço
que conhecia, era como se meu mundo
aparente se consistisse em  ser o que era,
pois tudo estava em seu lugar. Era como
renascer todas as horas, numa eterno.
brincar de viver,
Ao sair para brincar, a pequena estradinha de terra
parecia se desenhar em cada passo, como quem
me levava a passear pelo meu destino, sem
grandes preocupações.
O mundo fervia como um caldeirão esquecido no fogo,
Havia revoluções por toda parte; pessoas sumindo, pessoas
morrendo, pessoas lutando por um ideal. E, eu, sem grandes
causas para lutar,
Compreendida pelo lugar que me acolhia, pela mansidão das horas lentas
que vivificavam as células do meu crescimento em estatura. Muito
mais crescia em entendimento, não como os adultos, que só pensam em si,
na qualidade do que comem, na beleza de vestimenta, no prazer de receber.
Meu intento sempre foi viver saber e crescer, assim como uma árvore que
se dá bem em seu lugar.
De manhãzinha quando o sol despontava no horizonte, tão meigo
e tão puro como uma tocha iluminada pelo fogo da esperança de apenas
nascer por ser preciso, eu , assim como ele, renovava a esperança de
seguir.
Não existiam dias e meses e anos, apenas as horas que me acompanhavam
porque o tempo era o tempo, aquele tempo presente em cada brincadeira, em cada
sonho de criança, em cada sabuguinho de milho debulhado, que carinhosamente
se transformava em bonequinha tão carinhosa e tão meiga presença.
Aquele mundinho reduzido, onde a casinha era a ramada que se deitava sobre
 as grandes árvores, a cama feita de folhas fresquinhas e macias, o fogãozinho
de tijolos e gravetos, o fogo imaginário, a comida apetitosa brincadeira de
um cérebro fértil e brincalhão.
Sobre um céu encantado eu brincava, como princesinha sem trono, o castelo
estava em tudo que podia olhar, que se estendia quanto mais longe eu pudesse ir.
Como quem tece uma manta, a próxima trama é sempre novidade.
As vezes eu chegava mais longe, até a esquina das minhas dúvidas, para depois voltar
para o conforto do que realmente conhecia.
Só que não podemos bitolar nossas andanças, senão o mundo rola sozinho, e eu
precisava fazer companhia ao espaço que ainda não me conhecia.
Fui seguindo aos poucos, não havia necessidade de absorver tudo de uma vez. Meus
olhos eram teimosos, estavam ávidos por exploração, antes mesmo de agir eu precisava
aprender, e como aprender se não pudesse observar?
Nenhum conhecimento chegava fácil, tudo era muito difícil. As coisas se isolavam, omitiam
a sua essência, tinha que descobrir por mim mesma.
E pela primeira vez em ninha vida,  finalmente, tive consciência de mim.
Já não me bastava ser criança, já não me bastava ser como qualquer animal, começava a formar opinião.
Observava meu pai, minha mãe, meus irmãos, ficava atenta ao que diziam, ao que faziam, mesmo
fingindo que não me importava.
Meu mundinho de repente ficou enorme, como se não pudesse mais contro-lá-lo.
Ficar ciente da cegueira de uma hora para outra, é muito triste. Precisei me esforçar para
aprender a enxergar, agora com mais clareza, esforçar-me para aprender sem ofender, pois,
naqueles dias havia uma certo tabu em relação a muitas coisas que os adultos faziam ou diziam,
nem tudo estava ao meu alcance.
Precisava sondar os passos, as vezes, tinha mesmo que apagá-los, não podia deixar pegadas,
para não sofrer castigos.
Fazer papel de adivinha: O que pode e o que não pode?
Não havia cartilhas ensinando a viver, apenas uma vara encostada num canto pronta para ser usada
caso pisasse em falso,
E o caminho era incerto, e os desejos impuros, e o que fazer? eu não sabia!
Mesmo o que nos parecia certo aos olhos alheios, mesmo assim. havia uma certa dúvida no ar.
Será?
Tornei-me uma alquimista profissional em relação a minha vida. Nada estava as claras, cada sentimento que descobria, precisava estar bem guardados dentro de uma caixinha de segredos, que só poderia ser aberta na solidão, marcados nos encontros comigo mesma.
Fiquei mocinha no silencio, nem sabia que me tornara moça naquele dia fatídico, quando vi
meu próprio sangue a escorrer, Por sorte, meus olhos furtivos já haviam presenciado alguma
coisa semelhante, e tirei minhas conclusões.
Então, me pareceu natural.
E do resto, o mundo se encarregou. O mundo ou o tempo, não sei. Não tem diferença entre um ou outro. pois o que nos leva são as experiências e as necessidades.
Nosso destino e nossa sorte estão em cada decisão que tomamos, independente da estação, movidos
mais pela necessidade do que propriamente por escolhas.
 Herta Fischer (Hertinha)










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