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Luz azul

  Quando olhava o que ele fazia, ficava extasiada. Era capaz de fazer qualquer coisa andar, especialmente, quando manejava seu tempo. Era me...

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Devaneio de quem procura

E la estava eu, miudinha e feliz, em meu mundo de faz de conta.
Caminhava para baixo, muito para baixo, só para baixo, rumo
ao encantado descanso perfeito.
Lá no sopé do morro, quase afogado em tristeza morava
meu lugarzinho.
Eu descia assoviando uma melodia serena que só meus
lábios conheciam, ninguém mais.
Meus pés não se envergonhavam, mas caminhavam nus pelas ralas
gramas  a beira do caminho que sorria.
E me tocavam, quase que tão carinhosas, a me arrancar suspiros
de prazer ante o molhadinho de sua nudez.
O caminho era tão estreito, impossível não amá-las, tão convidativas
estavam a beliscar-me os calcanhares.
Depois da descida um barranco me aguardava, tão decidido a me encurralar,
a não deixar-me avançar.
Eu tocava-os com as mãos e de manso escorregava por seu trépido e volumoso
corpanzil.
Alcançava sua gloria, quando ele se esparramava na terra e através dele se abria novamente um caminho, ele reclamava a soltar torrões de terra, mas me deixava ir.
Lá dentro, naquele buraco enorme, havia um mar de lama, e eu o enfrentava.
Meus pés tão pequenos e tão poderosos, com garra pisava o lodo, ele o
queria engolir, brigavam, se estapeavam, a meia boca aberta sugava-me  até a cintura,
e meus pés enérgicos sussurrava com bravura: Você não me vence não!.
Um para cima, outro para baixo, as vezes de joelhos, outras engatinhando, e eu
conseguia me safar.
De repente uma árvore deitou-se como quem me estendia a mão, e se pôs a meu dispor,
sorridente.
Eu apanhei seu galho como tábua de salvação, e cutucando a lama a coloquei em seu lugar,
Só então sorri, como quem sorri da dor, do outro lado se estendia um riacho de esperança e prazer,
onde, com cuidado, coloquei meus pezinhos cansados e sobrecarregados pela lama seca.
Quanta sabedoria existia na água, que a lama enciumada fazia questão de torná-la tão difícil de alcançar.
O rio então se me abriu em sorrisos e começou a cantar em seu córrego. Um tilintar tão melodioso
encheu meu coração de amor.
O coqueiro que teimosamente crescia ao pé do riacho se encantou com um pássaro que empoleirou
em seu galho, e pôs-se a dançar alegremente, molhando as pontas de suas folhas na água que sorria.
Quão mágica é a vida, quanta doçura  há em seu leito, parece feito de corações perfeitos, recheados
de novidades.
Pena que, tão logo cheguei, tão logo precisei pensar em voltar. Uma mariposa sapeca me trouxe a realidade, ao pousar em minhas mãos. Lembrando-me que o sol já se perdia entre as árvores, lançando um resquício de luz dançante a me dizer adeus.
Dei uma última olhada para o rio, parecia meio triste agora, uma sombra amarelada tirou um pouco do brilho de seu olhar.
Olhei para a frente, e o tenebroso pântano sorria como se zombasse de mim, mas eu, não desisti de enfrentá-lo novamente, pois o galho daquela árvore gentil e hospitaleira, me aguardava cheia
de vontade.
Peguei-o entre os dedos, senti uma força tão grande, que o medo de enfrentar a lama não
conseguiu me afetar.
Despedi-me do meu descanso e segui rumo a decadência de barro. Tão logo pisei, tão logo afundei.
Comecei a intimidá-lo, pisando bem de mansinho como se flutuasse, o galho que  me assistia, me empurrava, me encarava e me chamava para seguir. Foi até mais fácil do que pensara, ao chegar na margem, olhei para trás, tudo estava igual como era antes, e a natureza já um tanto adormecida
não mais se preocupou, foi ficando sem cor, e desfaleceu no seu lugar.
Mas ainda restava o barranco, tinha que vencê-lo.
Estava escuro, o sol se foi, a natureza adormecida já não podia me ajudar, então, era entre eu e o barranco.
Coloquei minhas mãozinhas em seu ombro, finquei com força e poder, dele arranquei gemidos, pois logo alguns torrões se soltaram, e minhas mãos deslizaram quase que me jogando ao chão.
Como tudo é perfeito.  mesmo no escuro um chumaço de capim se colocou a meu dispôr, peguei-os
pelos cabelos, de tão fortes me feriram, mas deles viera o socorro, e não podia desperdiçar.
Com as mãos feridas e doloridas pelo esforço, coloquei um pé em uma saliência, outro pé em outra mais acima, e com ajuda do pé de capim, consegui completar a escalada.
La de baixo, mesmo sem conseguir enxergar, uma saraiva de gritos de sapos me incentivaram a avançar.
Tão logo alcancei o caminho, minhas pernas me levavam, e sentia ainda, o doce carinho da grama a roçar nos calcanhares. Ate encontrar-me novamente na doce casinha que me abrigava da noite.
Serenamente. Cansada, mas contente. Espreguicei-me entre os lençóis macios, e a noite que nos alcançou, nela me acomodou até o sono chegar.
 Herta Fischer (Hertinha)















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