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Ciranda noturna

  E as formosas tardes, roubando o encanto da manhã, A sorrir sol entre as árvores Meu recanto, colorindo a relva com giz amarelo. E a luz s...

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Desanimados e rebeldes

O maior milagre foi quando nasci e ouvi
minha mãe dizer; É uma linda menina!
Sentada num banquinho de madeira talhada,
entre o fogãozinho a lenha e uma pequena
mesa dando-me de mamar.
Foi neste dia que me descobri, que ouvi
meu coraçãozinho acelerar de satisfação,
Finalmente eu era reconhecida por ser alguém.
É lógico que não me lembro, apenas me enlevo
em pensar que assim aconteceu.
Enquanto meu pai trabalhava na plantação
de cebolas, minha mãezinha cuidava dos
frutos do seu ventre, entre uma corrida para
fazer o seu dever de casa e a satisfação
de poder ser mãe em tempo integral.
Éramos bem pobrezinhos, não tínhamos
quase nada, apenas o necessário para sobreviver com
uma certa dignidade.
Um pequeno riacho ao fundo, do lado de um
 pé de jabuticabeira exibindo suas flores branquinhas,
ali mesmo, minha mãe lavava suas roupas,
enquanto brincávamos debaixo de sua sombra.
Que felicidade o existir, o ir descobrindo sonhos,
uma realização sem igual.
Felicidade era ouvir o cântico das cigarras quando
chegava o verão, ou ainda, o sorrir do vento quando
o verão dava espaço para o inverno fazer a sua estação.
Descobrir sons e cores eram a nossa diversão, pegar
galhos miudinhos, colocá-los a boca, sentir  a textura, o sabor,
depois cuspir ou engolir, enquanto minha mãe tão concentrada
ficava a  bater as roupas na tabua, de cabeça baixa,
ajoelhada sobre ela, com seus cabelos compridos
quase encostando na água.
Uma imagem surreal, uma imagem quase divinal, parecia
um anjo, dançando ao som da água que caia duma biquinha,
no vai e vem do esfrego da limpeza.
E nós, seres tão pequeninos, entregues a natureza, comovidos
com tanta dedicação.
Crescidos um pouquinho, já um tanto mais sabidos, embrenhávamos
na mata, tão majestosa e serena, tinha vida, tinha sonhos, era igual a nós.
Esperava pela chuva, assim como meu pai aguardava pela mesma, para
deitar a semente ao chão, e ela vinha em seu tempo, toda molhadinha,
mansinha, a fazer a sua parte, assim como todos nós.
Que saudade daquele tempo, sem luz elétrica, sem fogão a gaz, sem maquina
de lavar, sem trator, sem motor para irrigar, mas a força de vontade substituía
tudo isto.
Deus nos olhava, Deus nos dava o que precisávamos, as quatro estações definidas,
o sol cooperava vindo fraquinho, a chuva chegava no tempo certo, tudo tinha regras
bem definidas,. Éramos lavoura santa, e a colheita também era santa. dava e sobrava.
Meu pai sustentava cinco filhos pequenos, mais minha mãe e ele, e vinha tantas bençãos,
mas tantas bençãos, que só sabíamos agradecer.
Hoje nada tem graça, temos tudo e nos falta alegria, Temos água encanada e reclamamos,
temos máquina de lavar e nos falta coragem, que foi que aconteceu?
O tempo ficou maluco. Nós o enlouquecemos. Quando esta calor, clamamos por frio, quando
está frio, falamos mal dele, quando chove, reclamamos, quando não chove, oramos,
Enfim, por estarmos insatisfeitos com tudo, acabamos por se mal agradecidos, e o
tempo nos da as compensações.
Herta Fischer










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