Já passei pela primavera, pelo verão, pelo inverno,
agora é outono.
As folhas caem sem motivo, já estão avermelhadas,
e se preparam para o último inverno.
Estou me aprontando para a branquidão da neve,
quando não mais ouvirei o cântico dos pássaros,
que estão emudecendo por causa do frio que
se instala,
Cada um procurará o seu melhor abrigo, e eu também procuro
por um, e só acho um abrigo que pode me socorrer. Deus!
Quando tudo for silêncio, e silêncio profundo, onde
não existe nada, nem ninguém, só a alma a ansiar
por cuidado, procurarás e não mais me acharás em nada, exceto
em algum material que toquei.
Ouvirás uma música suave, dentro do silêncio que me alcançou,
e só conseguirá lembrar do gosto que eu gostei.
Serei eu e o vazio, inundado num espaço pouco aproveitado
de uma vida vivida, sem a menor chance de continuar.
Deixarei uma única obra, a lembrança do registro
de mim, que com o tempo, o próprio tempo levará embora.
Outras gerações virão, há de se falar de mim, do que fui,
do que falei, e até do que fiz, mas até mesmo isto um dia
se apagará.
Não sei se volto, gostaria de pensar que sim, gostaria mesmo
de voltar em outro plano, ou de ter uma continuação sob outro
aspecto, de uma outra forma, que não seja esta figura que
se esgotou de tantos sonhos criados, desvendados e até
solucionados, mas que morreu ao nascer da aurora, ainda
criança, ainda com tanto a aprender.
(Hertinha)
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Lá onde aconteceu
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sexta-feira, 5 de junho de 2015
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